sexta-feira, 20 de março de 2009

A semente que cura

Minha mãe pôs o primeiro cigarro na boca aos 14 anos, achava o máximo: ver nos filmes as melhores atrizes sempre com um cigarro na mão. Conheceu meu pai aos 18 anos, ele também fumava, achava coisa de homem de atitude. Aos 24 anos, já casada, engravida, passou naquele momento a detestar o cigarro, sentia nojo, ânsia de vômito! Durante os nove meses de gestação, nenhum cigarro pôs na boca. Eu mudei a vida dela, em todos os aspectos!
Meu pai continuou a fumar, e fumava muito, não havia hora ou local, sempre tinha mais de um no bolso. Nasci com problemas respiratórios, constantemente indo ao hospital.
Os anos passaram, nem me dei conta, já estava eu com 5 anos! Um dia tive uma brilhante idéia:
assisti com minha mãe o filme – amor, com amor se paga - ela me dizia:
- Meu filho todo amor exige uma prova, quem ama cuida.

Pensei seriamente nisso, afinal eu não era mais uma criança, já tinha 5 anos!

Esperei que todos saíssem, minha mãe foi ao supermercado e meu pai trabalhar.
Estava sozinho, fui em direção do quarto de meus pais, abri a gaveta onde ele costumava guardar seus cigarros, busquei por fósforo na cozinha. Retornei ao quarto, acendi três cigarros, queria entender por que meu pai gostava tanto de cigarros? Achava que ele gostava mais do cigarro do que de mim! Morava-mo-nos distante, numa chácara de beleza estonteante. O segundo cigarro pus na boca e inalei a fumaça, o primeiro e o terceiro deixei bem próximo ao nariz. Fiquei tonto, com ânsia de vômito, querendo desmaiar, caí em algum momento desacordado, o cigarro caiu no tapete, o fogo não fui capaz de ver. Quando minha chegou correu em direção do quarto, a fumaça podia ser vista de longe. Tentou ela me fazer abrir os olhos, sem sucesso, fomos para o hospital. Estava asfixiado com toda aquela fumaça inalada, quando meu pai chegou nada nem ninguém encontrou. Seu telefone toca, e ele sem compreender saí as pressas para o hospital, quando lá chegou eu já não estava mais. Pelo menos não em vida!
O médico explicou em detalhes sórdidos como teria morrido.
Ele muito triste tira os cigarros do bolso, o isqueiro de prata e joga envolto a dezenas de lágrimas no lixo. O remorso o possuiu!
Todos ficaram imediatamente sabendo do trágico fim de minha vida pequena.
Muito choro, nenhum sono.
No dia seguinte no cemitério, meu pai leva uma semente, a semente de uma rara flor azul, adorava aquela flor. Ele prometeu de joelhos que enquanto vivesse plantaria para cada cigarro fumado uma semente daquela flor. Assim o fez...
Um ano passou, sozinho no cemitério meu pai planta uma muda daquela flor ao meu lado, ou melhor, ao lado do meu túmulo, disse-me ali de joelhos: sua mãe perdeu seu irmãozinho, fiz um poema para vocês, quando meu corpo não tiver mais forças para resistir as palavras resistirão bravamente ao tempo: