sábado, 15 de outubro de 2016

PEC 241, de que Brasil estamos falando?

Tive esperança em um país melhor. Alimentava esse sentimento ainda criança. Crescer no agreste nordestino tens seus problemas. Lembro da cor e cheiro da água, às vezes com sapinhos dentro. Lembro de campus universitários fechados nos anos noventa, e de greves. Não me imaginava dentro de uma universidade pública. Os anos passaram e eu alimentei meu sonho com muita dedicação. Passei no vestibular três meses após ter concluído o ensino médio. A universidade estava abandonada! Funcionava numa prédio velho de uma antiga creche, uma lagoa de captação logo atrás. Máquinas eram poucas, livros raros, professores em greve constante. Eu devia fazer ciência da computação, sem computadores!
Perdi interesse no curso, no ensino, no país. Um dia resolvi assistir uma assembléia dos grevistas, entre os representantes e o reitor. Até aquele momento acreditei que eram pessoas sérias. O que vi ali me fez querer presidir o diretório de estudantes com a única finalidade de proibir greves. Por quatro anos estive a frente disso, e logo que deixei o cargo uma greve deflagrada.
Me pergunto hoje, o que mudou?
Falam que paga-se pouco, que se investem pouco, discurso dos sindicatos. O governo diz que investe muito, que o custo do país só aumenta e por isso a necessidade da PEC 241. Eu me pergunto em que país vivem eles?
O Brasil que eu conheço é o seguinte, listo cinco pontos:
1 – Infraestrutura. Lembro da rua entre minha casa e a escola. O hospital na esquina, uma rua de chão batido onde esgotos corriam, seja do hospital ou das casas. Estudei oito anos na mesma escola, jamais resolveram isso. Conheci São Paulo, lá também tem disso, esgoto, rios sujos. Todos sabem onde irá alagar. As estratadas são as mesmas, quase não vi novas criadas, o curioso é que os buracos sempre existiram. Me questiono qual a função dos ministérios e secretárias ligadas a área. É só para ser ocupado por algum político da base aliada?
É curioso como independente do estado, primeiro fazem a pista, depois quebram para fazer o saneamento, e de qualquer jeito refazem as ruas. Colocar água limpa para diluir poluída. Falta dinheiro? Nunca saberemos pois sem planejamento fica impossível prever os custos de uma obra.
2 – Produção. A indústria ou qualquer outra área até produzem algo de qualidade, mas terão de deixar o local de produção se quiserem vender. Os problemas são conhecidos e impossíveis de serem evitados. Chuva rima com alagamento, buracos, fim de estrada. Falta de chuva rima com buracos, fim de estrada. Resolve isentá-los?
3 – Previdência e trabalho. Pobre trabalha e rico tem emprego. Fala-se no rombo da previdência, em impostos, em desemprego (na crise). Mas não falam do empregado. Os impostos devoram sua renda. Com a idade e possíveis doenças a previdência não suprirá suas necessidades. Mas eles poderiam ter poupado? Poupado como? Se para ir ao trabalho gastavam quatro horas diárias. Andavam pelas ruas de esgotos, de chão, alagadas, sem luz. Como não adoencer? Assalto? Milagre não ser vítima. O filho precisa de um material novo, que a escola julga necessário. A escola tem um preço. Faculdade, cursinho cobra um preço para preparar seu filho, coisa que a escola não fez. Trabalhamos para que? Pagar os impostos e esperar pela previdência. Os impostos retornam? Talvez com planejamento… Mas isso não existe no Brasil!
4 – Saúde. Com tantas ruas sem tratamento de esgoto, água poluída, alagamento, desmoronamento, assaltos, violência, horas em filas ou transporte. Seria um milagre mantê-la. Recorrer ao SUS é a opção do brasileiro. Nas pequenas cidades trabalham que está na base do prefeito, qualidade não é preocupação. No estado os aliados são prioridades. Para onde vão os investimentos? Para os aliados! O que fazem eles? Desviam, superfaturam… Dizem que investem!
5 – Educação. Sem planejamento, organização e fiscalização. Estudei a vida toda em escola pública ou (no ensino médio um misto de filantrópica e pública). No fudamental jamais usei os microscópio da escola. No ensino médio os computadores eram intocáveis, a secretária gritava com aquele que ousasse utilizá-los. A moda era falar em alienação, palavra dos recém-graduados. O ensino fundamental foi oscilante, mas positivo. O médio posso dizer que foi uma queda livre. Fui chamado de cachorro por um professor de matemática. Gritado pelo secretária, dentro e fora da sala de aula. Sabem o que eu fiz? Num dia de chuva, sem luz na sala (estudava a noite), sai da sala e fui para casa. A secretária queria fazer um pronunciamento oficial! Curiosamente esperamos por meia hora sem que nada fosse dito.
No ensino superior fui chamado de analfabeto por um professor. Uma professora sugeriu que eu deixasse o curso para estudar literatura ou filosofia, já que eu presidia o diretório de estudantes do curso. Outra professora se dizia apaixonada pela pesquisa, aliás havia sido esse o motivo que a levou para dentro da sala de aula. O primeiro professor dava aula por um material que com erros de conteúdo, jamais se prestou a corrigi-los (falava a cada aula o que havia de errado), repetia as provas a cada semestre. A segunda, adorava faltar, tinha momento de amizades e inimizades com todos. A terceira sem publicações, jamais consegui compreender quando fazia uma pergunta ou afirmação, tamanha a falta de dicção.
Participei de tudo na universidade, de projetos de extensão, pesquisa, voluntariado. Organizei eventos esportivos, estudantis, e finalmente graduei (ufa)!
Da pesquisa aprendi a ter desprezo pelo CNPq e Capes, que considero o melhor exemplo de como a educação é vista e gerida no país. O CNPq adora papéis, relatórios, eventos anuais, e resultados. Para eles resultados se resumem aos artigos. O número de simpósios e eventos se multiplicaram do meu ingresso aos dias atuais, o que faz jus aos mais de quinze mil artigos publicados por brasileiros. São artigos com muitas referências, algumas alterações (para publicar mais) e poucos resultados. Bolsa não é salário, dizem eles, mas cobram dedicação exclusiva. Quem produz pesquisa no país? Aquele professora que amava a pesquisa e que por isso foi ministrar aula? Não, são os bolsistas!
Bolsista não tem férias (deve ser negociada), não tem direito a aposentadoria, seguro, vale alimentação, e outras coisas comuns aos estagiários. O mestrado no Brasil é semelhante a graduação, disciplina inúteis e uma dissertação para mostrar os resultados.
Eu quis fugir do mestrado por um tempo, decidi fazer o CI-Brasil. A ideia de inovar, poder fazer parte de um seleto grupo e romper com o atraso tecnológico brasileiro me motivou a fazê-lo. Fiz o treinamento, segunda fase, fui para uma Design House. Consegui, pasmém, ter um trabalho aceito em um evento da empresa que fornece as ferramentas ao programa CI-Brasil. A Cadence é líder mundial na área. Não fui ao vale do silício apresentá-lo. Lembram daqueles erros no material do professor que me chamou de analfabeto na graduação? No treinamento também se repediu, não a ofensa, mas os erros no material, e eram muitos!
Diziam que podiam contar com o CNPq para dúvidas e algo mais, a primeira vez que as bolsas atrasaram fomos tratados como lixo. Desconbri quem “lidava” (semelhante a quem cuida de cavalos) com isso em Brasília. Uma pessoa cujo o mestrado havia sido feito em cima de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez na adolescência (capacitado por tanto para gerir o programa de microeletrônica). Arrogância define seu jeito de lidar com todos!
Curiosamente, hoje o programa está sem recurso. Muitos bolsistas sairam da área, as Design House fecharam ou estão fechando. O que deu de errado? Ter seguido a doutrina de improdutividade do CNPq!
Tive meus resultados aceitos em eventos internacionais, por exemplo em um da Nature. Claro que não fui, estava no mestrado. Mestrando é bolsista, bolsista é um nome fino para escravo. Mas somos nós quem escrevemos e publicamos os quinze mil artigos, não eles!

Não vi, não li nem ouvi nada do governo que se refira a planejamento. Dizem que a crise é fruto do excesso de gastos, do descontrole. Mas não falam em acabar com o desperdício. Não falam em planejar o futuro. Haverá concessões no futuro, mas elas atenderam aos problemas básicos? Aquela rua continua lá. É possível controlar sem planejar? A inflação é parâmetro de qualidade, planejamento?
Não tive dinheiro para ir ao evento da Nature, mas sei de políticos que usaram aviões da FAB para fazer implante de cabelo. Tenho dúvida em que tipo de prioridade estão falando agora. Vivo num país diferente daquele apresentado pela oposição e pelo governo. Aquela rua continua lá, o esgoto foi desviado mas não é tratado. É isso que querem fazer!

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