Tive
esperança em um país melhor. Alimentava esse sentimento ainda
criança. Crescer no agreste nordestino tens seus problemas. Lembro
da cor e cheiro da água, às vezes com sapinhos dentro. Lembro de
campus universitários fechados nos anos noventa, e de greves. Não
me imaginava dentro de uma universidade pública. Os anos passaram e
eu alimentei meu sonho com muita dedicação. Passei no vestibular
três meses após ter concluído o ensino médio. A universidade
estava abandonada! Funcionava numa prédio velho de uma antiga
creche, uma lagoa de captação logo atrás. Máquinas eram poucas,
livros raros, professores em greve constante. Eu devia fazer ciência
da computação, sem computadores!
Perdi
interesse no curso, no ensino, no país. Um dia resolvi assistir uma
assembléia dos grevistas, entre os representantes e o reitor. Até
aquele momento acreditei que eram pessoas sérias. O que vi ali me
fez querer presidir o diretório de estudantes com a única
finalidade de proibir greves. Por quatro anos estive a frente disso,
e logo que deixei o cargo uma greve deflagrada.
Me
pergunto hoje, o que mudou?
Falam
que paga-se pouco, que se investem pouco, discurso dos sindicatos. O
governo diz que investe muito, que o custo do país só aumenta e por
isso a necessidade da PEC 241. Eu me pergunto em que país vivem
eles?
O
Brasil que eu conheço é o seguinte, listo cinco pontos:
1 –
Infraestrutura. Lembro da rua entre minha casa e a escola. O hospital
na esquina, uma rua de chão batido onde esgotos corriam, seja do
hospital ou das casas. Estudei oito anos na mesma escola, jamais
resolveram isso. Conheci São Paulo, lá também tem disso, esgoto,
rios sujos. Todos sabem onde irá alagar. As estratadas são as
mesmas, quase não vi novas criadas, o curioso é que os buracos
sempre existiram. Me questiono qual a função dos ministérios e
secretárias ligadas a área. É só para ser ocupado por algum
político da base aliada?
É
curioso como independente do estado, primeiro fazem a pista, depois
quebram para fazer o saneamento, e de qualquer jeito refazem as ruas.
Colocar água limpa para diluir poluída. Falta dinheiro? Nunca
saberemos pois sem planejamento fica impossível prever os custos de
uma obra.
2 –
Produção. A indústria ou qualquer outra área até produzem algo
de qualidade, mas terão de deixar o local de produção se quiserem
vender. Os problemas são conhecidos e impossíveis de serem
evitados. Chuva rima com alagamento, buracos, fim de estrada. Falta
de chuva rima com buracos, fim de estrada. Resolve isentá-los?
3 –
Previdência e trabalho. Pobre trabalha e rico tem emprego. Fala-se
no rombo da previdência, em impostos, em desemprego (na crise). Mas
não falam do empregado. Os impostos devoram sua renda. Com a idade e
possíveis doenças a previdência não suprirá suas necessidades.
Mas eles poderiam ter poupado? Poupado como? Se para ir ao trabalho
gastavam quatro horas diárias. Andavam pelas ruas de esgotos, de
chão, alagadas, sem luz. Como não adoencer? Assalto? Milagre não
ser vítima. O filho precisa de um material novo, que a escola julga
necessário. A escola tem um preço. Faculdade, cursinho cobra um
preço para preparar seu filho, coisa que a escola não fez.
Trabalhamos para que? Pagar os impostos e esperar pela previdência.
Os impostos retornam? Talvez com planejamento… Mas isso não existe
no Brasil!
4 –
Saúde. Com tantas ruas sem tratamento de esgoto, água poluída,
alagamento, desmoronamento, assaltos, violência, horas em filas ou
transporte. Seria um milagre mantê-la. Recorrer ao SUS é a opção
do brasileiro. Nas pequenas cidades trabalham que está na base do
prefeito, qualidade não é preocupação. No estado os aliados são
prioridades. Para onde vão os investimentos? Para os aliados! O que
fazem eles? Desviam, superfaturam… Dizem que investem!
5 –
Educação. Sem planejamento, organização e fiscalização. Estudei
a vida toda em escola pública ou (no ensino médio um misto de
filantrópica e pública). No fudamental jamais usei os microscópio
da escola. No ensino médio os computadores eram intocáveis, a
secretária gritava com aquele que ousasse utilizá-los. A moda era
falar em alienação, palavra dos recém-graduados. O ensino
fundamental foi oscilante, mas positivo. O médio posso dizer que foi
uma queda livre. Fui chamado de cachorro por um professor de
matemática. Gritado pelo secretária, dentro e fora da sala de aula.
Sabem o que eu fiz? Num dia de chuva, sem luz na sala (estudava a
noite), sai da sala e fui para casa. A secretária queria fazer um
pronunciamento oficial! Curiosamente esperamos por meia hora sem que
nada fosse dito.
No
ensino superior fui chamado de analfabeto por um professor. Uma
professora sugeriu que eu deixasse o curso para estudar literatura ou
filosofia, já que eu presidia o diretório de estudantes do curso.
Outra professora se dizia apaixonada pela pesquisa, aliás havia sido
esse o motivo que a levou para dentro da sala de aula. O primeiro
professor dava aula por um material que com erros de conteúdo,
jamais se prestou a corrigi-los (falava a cada aula o que havia de
errado), repetia as provas a cada semestre. A segunda, adorava
faltar, tinha momento de amizades e inimizades com todos. A terceira
sem publicações, jamais consegui compreender quando fazia uma
pergunta ou afirmação, tamanha a falta de dicção.
Participei
de tudo na universidade, de projetos de extensão, pesquisa,
voluntariado. Organizei eventos esportivos, estudantis, e finalmente
graduei (ufa)!
Da
pesquisa aprendi a ter desprezo pelo CNPq e Capes, que considero o
melhor exemplo de como a educação é vista e gerida no país. O
CNPq adora papéis, relatórios, eventos anuais, e resultados. Para
eles resultados se resumem aos artigos. O número de simpósios e
eventos se multiplicaram do meu ingresso aos dias atuais, o que faz
jus aos mais de quinze mil artigos publicados por brasileiros. São
artigos com muitas referências, algumas alterações (para publicar
mais) e poucos resultados. Bolsa não é salário, dizem eles, mas
cobram dedicação exclusiva. Quem produz pesquisa no país? Aquele
professora que amava a pesquisa e que por isso foi ministrar aula?
Não, são os bolsistas!
Bolsista
não tem férias (deve ser negociada), não tem direito a
aposentadoria, seguro, vale alimentação, e outras coisas comuns aos
estagiários. O mestrado no Brasil é semelhante a graduação,
disciplina inúteis e uma dissertação para mostrar os resultados.
Eu
quis fugir do mestrado por um tempo, decidi fazer o CI-Brasil. A
ideia de inovar, poder fazer parte de um seleto grupo e romper com o
atraso tecnológico brasileiro me motivou a fazê-lo. Fiz o
treinamento, segunda fase, fui para uma Design House.
Consegui, pasmém, ter um trabalho aceito em um evento da empresa que
fornece as ferramentas ao programa CI-Brasil. A Cadence é líder
mundial na área. Não fui ao vale do silício apresentá-lo. Lembram
daqueles erros no material do professor que me chamou de analfabeto
na graduação? No treinamento também se repediu, não a ofensa, mas
os erros no material, e eram muitos!
Diziam
que podiam contar com o CNPq para dúvidas e algo mais, a primeira
vez que as bolsas atrasaram fomos tratados como lixo. Desconbri quem
“lidava” (semelhante a quem cuida de cavalos) com isso em
Brasília. Uma pessoa cujo o mestrado havia sido feito em cima de
doenças sexualmente transmissíveis e gravidez na adolescência
(capacitado por tanto para gerir o programa de microeletrônica).
Arrogância define seu jeito de lidar com todos!
Curiosamente,
hoje o programa está sem recurso. Muitos bolsistas sairam da área,
as Design House fecharam ou estão fechando. O que deu de
errado? Ter seguido a doutrina de
improdutividade do CNPq!
Tive
meus resultados aceitos em eventos internacionais, por exemplo em um
da Nature. Claro que
não fui, estava no mestrado. Mestrando é bolsista, bolsista é um
nome fino para escravo. Mas somos nós quem escrevemos e publicamos
os quinze mil artigos, não eles!
Não
vi, não li nem ouvi nada do governo que se refira a planejamento.
Dizem que a crise é fruto do excesso de gastos,
do descontrole. Mas não falam em acabar com o desperdício. Não
falam em planejar o futuro. Haverá concessões no futuro, mas elas
atenderam aos problemas básicos? Aquela rua continua lá. É
possível controlar sem planejar? A inflação é parâmetro de
qualidade, planejamento?
Não
tive dinheiro para ir ao evento da Nature,
mas sei de políticos que usaram aviões da FAB para fazer implante
de cabelo. Tenho dúvida em que tipo de prioridade estão falando
agora. Vivo num país diferente daquele apresentado pela oposição e
pelo governo. Aquela rua continua lá, o esgoto foi desviado mas não
é tratado. É isso que querem fazer!
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